Na sua última viagem pela Terra-Média,
Peter Jackson encerra em grande a sua trilogia. Com emoção e acção, O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos
põe o perfeito ponto final na mais incontornável saga.
Depois de recuperar a Montanha Solitária, a
Companhia de Thorin Oakenshield (Richard Armitage) assiste à destruição de
Laketown pelo terrível Smaug. Sem a ameaça do dragão, a Montanha é alvo do
desejo de muitos. Nas sombras de Dol Guldur, Sauron tenta o seu regresso com a
conquista da Montanha. Legiões de orcs caminham para a batalha. No meio do
conflito, Bilbo Baggins (Martin Freeman) poderá ser a resposta.
O que começou
como projecto de Guillermo del Toro e acabou nas mãos de Peter Jackson, então
produtor, após problemas de financiamento da MGM, acaba de forma intensa e
explosiva num capítulo final que, partindo imediatamente para a acção com o
ataque impiedoso de Smaug à vila pesqueira Laketown, encerra a aventura de
Bilbo Baggins e conclui o prelúdio para a trilogia O Senhor dos Anéis. Se os capítulos anteriores sofreram de alguma
maneira da necessidade de viagem de A para B, A Batalha dos Cinco Exércitos não precisa de partir para lado
nenhum. Todas as peças estão no sítio certo. A companhia de Thorin Oakenshiled
recuperou a Montanha Solitária e a sua missão é defendê-la. A imensa fortuna da
Montanha que o dragão guardou durante tantos anos todos atrai.
Tomado pela
ganância e pela vontade de ser Rei Debaixo da Montanha, Thorin precisa da
Arkenstone, o Coração da Montanha que oficializará o seu poder. A progressiva alienação
de Thorin enquanto a batalha eclode no exterior, perante o olhar incrédulo de
Bilbo Baggins, é provavelmente o ponto mais deslumbrante do filme. Peter
Jackson agarra nestes momentos para dar a alma que por vezes tem faltado à
Companhia. No fim da trilogia perpetua a ideia de que muitos dos anões
permanecem desconhecidos para a audiência, provavelmente sem uma única fala nas
quase nove horas de interacção. Críticas sobejam sobre a decisão de Jackson
para dividir um curto livro numa adaptação cinematográfica tão grande. Como um
todo, a intenção de Jackson é compreensível. Talvez não fosse possível dar
tanta ênfase ao mundo de Tolkien de outra maneira, às suas inúmeras personagens,
criaturas e acontecimentos.
A principal
critica a esta segunda caminha de Jackson pela Terra-Média tem sido o uso de
CGI em grande escala. A Batalha dos Cinco
Exércitos não é imune a esta tendência, mais ainda quando a ênfase do filme
se concentra em torno de uma grande batalha com tão variadas criaturas em tão
elevado ritmo. O efeito é particularmente visível, e inconveniente, quando o
elfo Legolas entra em modo de combate, desafiando até a gravidade com a sua
agilidade. Embora Jackson não use tantos efeitos práticos como anteriormente,
particularmente na trilogia original, o neozelandês é contudo capaz de
introduzir momentos de emoção e sinceridade, pautados pela distinta música de
Howard Shore, entre as sequências que mais fazem abrir os olhos. É esta
capacidade de Jackson que tem tornado o seu trabalho especial e único. Neste
aspecto, A Batalha dos Cinco Exércitos
superioriza-se aos seus dois antecessores.
Se dúvidas ainda
houvessem de que Martin Freeman era o melhor Bilbo que poderia haver, o
derradeiro filme da trilogia faz dissipá-las. Freeman encarna Bilbo com toda a
humildade, acuidade e humor com que Tolkien criou e escreveu a personagem. Richard
Armitage tem um efeito semelhante no papel de Thorin. Aliás, qualquer cena
entra Freeman e Armitage faz remeter quase automaticamente para as palavras de
Tolkien. Não poderia haver melhor elogio do que este para as suas
interpretações. Por qualquer excesso que faça, Jackson nunca cometeu um erro no
casting do seu elenco. Ian McKellen impressiona pela última vez enquanto o
eterno Gandalf. Talvez nunca tenha havido uma personagem assim. Talvez nunca
venha a haver. A Batalha dos Cinco
Exércitos permite ainda um canto do cisne a Christopher Lee, Cate
Blanchett, Hugo Weaving, Orlando Bloom e Ian Holm nos seus icónicos papéis, bem
como ajuda a tornar memoráveis as recentes personagens de Evangeline Lilly,
Luke Evans, Lee Pace e Aidan Turner. A inesperada surpresa do filme é
discutivelmente Ryan Gage enquanto Alfrid, personagem criada pelos
argumentistas que traz ao filme o elemento cómico e relaxante.
Terminando a
sua jornada com a derradeira visita e olhar sobre o Shire e Bag End no seu
epílogo, O Hobbit: A Batalha dos Cinco
Exércitos liga esta trilogia à trilogia O
Senhor dos Anéis da forma mais emotiva. Sabendo o que advém na linha
temporal da Terra-Média, a sensação é avassaladora. A Terra-Média
cinematográfica está provavelmente encerrada. Peter Jackson trouxe ao ecrã a
saga mais vívida e fantástica do cinema. Agora, tudo o que temos de decidir é o
que fazer com o tempo que nos é dado… e revisitar é sempre uma hipótese, numa imersiva
longa maratona de quase um dia. Valentes não faltarão.
CLASSIFICAÇÃO: 4 em 5 estrelas
Site Oficial: http://www.thehobbit.com/
Trailer: